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Reflexão: Por que ser professor é ensinar com a vida

Sem a menor sombra de dúvida, a primeira pessoa que eu conheci fora do meu âmbito familiar foi a minha professora da creche. Não lembro o nome dela, mas nunca esquecerei que ela era uma alemoa brava e que foi a pessoa que me ensinou a amarrar os cadarços dos tênis e fazer massinha de modelar com trigo, água e corante.

Eu sempre fui o tipo de pessoa que era amiga dos professores. Pode soar meio estranho, mas eu amava conversar com eles, saber suas histórias, que música gostavam de ouvir e como se vestiam quando não estavam dando aula. Professores são a primeira referência que temos sobre o mundo e como ele funciona de verdade.

Colocando a memória para funcionar, lembro de cada professor que marcou a minha vida e que de alguma forma me ajudou a construir as bases daquilo que hoje eu acredito. Mais do que português, ciências, artes, matemática, geografia, biologia, metodologia, teorias da administração e empreendedorismo eles me mostraram que ser professor é ensinar com a própria vida.

Eu tive a dádiva de ter sido ensinada pelos melhores professores que existiram no mundo. Na terceira série por exemplo, tive uma professora chamada Eliane, ela me defendia dos alunos cruéis que insistiam em me chamar de baleia, orca e todos aqueles apelidos que hoje são considerados bullying, eu era aluna nova, numa escola nova e aquele ano teria sido terrível sem aquele sorriso carinhoso que ela me dava. Ela me ensinou que sempre haverá alguém para me defender das ameaças que a vida dá. E depois dela sempre houve.

Na sétima série tive uma professora chamada Alexandra, ela tinha covinhas, um par de olhos azuis e estava fazendo dieta dos pontos pois estava prestes a se casar. Ela ensinou que se eu quisesse, deveria correr atrás dos meus sonhos.  Enquanto eu não me formar em química (matéria que ela lecionava e meu grande sonho) parece que sempre vai faltar um sonho para realizar. Obrigada Xanda, serei sempre sua quimicóloga.

Como esquecer do período mais sensacional da minha vida escolar sem lembrar dos meus professores que lecionavam no Adolpho Konder. Começando pela diretora Denise que me proibiu de vender chocolates dentro do colégio, ela alegou que aquilo não era saudável e eu disse: Como se os lanches que são vendidos na cantina fossem muito saudáveis. Por pouco não fui suspensa. Lembro das minhas longas conversas com a professora Arli dentro da quadra do ginásio e da professora Verinha que até hoje é minha amiga e nos vimos quase que frequentemente no mercado.

É simplesmente impossível não lembrar da professora Martinha, a pessoa mais debochada e umas das mais legais que eu conheci, ela fazia bolsas de pano para vender e um dia pedi que ela fizesse uma bolsa bem grande (para caber todos os chocolates que eu vendia no corredor negro da escola), ela sempre ria daquela bolsa e dizia que eu caberia dentro dela se quisesse, a última vez que eu a vi, estava indo fazer os convites do meu casamento, ela me desejou felicidades e eu percebi uma coisa: Como o tempo tem a coragem de passar tão rápido?

Professora Laisa, depois de me chamar de lenta no primeiro ano, se tornou minha amiga no segundo, Professor Luiz Valdir Helmamm e seu fusca vermelho e professora Monica e suas garrafinhas de água coloridas me ensinaram a ser eu mesma sem ao menos imaginarem o quanto eu seria grata. E por fim professora Shirley e sua imensa capacidade de fazer simples alunos de escola pública se tornarem mais que grandes profissionais, os que passaram pela sala dela se tornaram grandes seres humanos também.

Professores, esses seres generosos que nos transmitem tudo que sabem sem esperar nada em troca mereciam mais que um dia, mais que um salário alto, mais que escolas abandonadas. Mereciam mais que alunos mal educados e pais de alunos mais mal educados ainda. Por serem a base de qualquer sociedade e detentores do conhecimento deveriam no mínimo, ter todo o respeito e honra.

Para os professores da minha vida, obrigada por me ensinarem a escrever meu nome, a contar com palitinhos e feijões e pedir desculpa para o coleguinha quando errei. Obrigada por todo esforço, toda dedicação, toda hora/aula que passaram planejando coisas legais para fazer, obrigada por terem levado tanto trabalho para casa e obrigada por marcarem provas todos no mesmo dia, obrigada pelas conversas, lições de vida e obrigada pela amizade que pude construir com cada um de vocês ainda que nem lembrem o meu nome.


Obrigada por me ensinarem  com suas próprias vidas o que realmente era importante saber, meu desejo é que um dia sejam recompensados por tanto amor. 

Vanessa Caetano


Um comentário:

MARTINHA disse...

Amei. Muito obrigada!